Não nasci cético. Fui doutrinado desde criança, como a maioria das pessoas no Brasil, para ser Cristão. Fui batizado. Fiz primeira comunhão. Frequentei a Igreja.
Meu irmão mais velho, a pessoa com o caráter mais apurado e com mais apreço aos estudos que já conheci, sempre foi um grande estudioso do fenômeno da religião e defensor do conceito do design inteligente.
Minha avó, a pessoa mais pura e bondosa com a qual tive a alegria de conviver, era Católica devota.
Fui criado com todos os requisitos necessários para ser religioso, e fui, por bastante tempo, pelo menos até começar a estudar religião e particularmente a história do Cristianismo.
Descobri, lá pela minha adolescência, sem a menor margem de dúvidas e amparado pelos mais credenciados Historiadores da Religião, Filósofos e Teólogos de antes e de agora, como Constantin-François Chassebœuf, Charles-François Dupuis, David Friedrich Strauss, Bruno Bauer, Godfrey Higgins, Rudolf Karl Bultmann, Bertrand Russel e posteriormente Bart D. Ehrman , Reza Aslan e Robert M.Price , dentre muitos outros, que a Bíblia, o livro mestre do Cristianismo, não passa de uma fraude convenientemente escrita por anônimos, redigida, traduzida, montada e editada ao longo de mais de mil anos pela instituição mais perversa da história da humanidade; Um misto de plágio de religiões anteriores, interpretações equivocadas das escrituras judaicas e documentações fraudulentas deliberadamente inseridas com o intuito de manipular. Descobri também que nenhum Teólogo minimamente respeitado no meio acadêmico apoia tamanhas asneiras como a ressurreição e a concepção assexuada.
No mesmo período descobri que Historicamente, Jesus de Nazaré, avatar maior do Cristianismo, é um fantasma, uma lacuna. Exceto por documentos escritos por Públio Cornélio Tácito e Flávio Josefo, ambos nascidos após a suposta morte de Jesus Cristo, não existe nenhuma outra fonte histórica genuína e considerada contemporânea a ele que comente ou relate sua vida, trajetória e feitos. Simplesmente não há nenhum relato histórico sobre Jesus escrito diretamente por testemunhas oculares, o que pode ser considerado no mínimo peculiar, já que supostamente ele andou por boa parte do velho mundo fazendo milagres e proferindo sermões para as massas. Como pode então, uma personagem que segundo a crença comum causou tanto impacto ao ponto de ser lembrado e idolatrado até os tempos de hoje, ser tão pouco comentado por filósofos, estudiosos , historiadores e pensadores de sua própria época? De três, uma; Ou todos que testemunharam a sua vida e feitos não o consideraram digno de nota, o que é pouco provável, ou escreveram muito sobre ele mas todos os documentos foram perdidos, o que também é improvável, ou ninguém anotou porque ninguém viu nem presenciou nada do que está escrito no novo testamento. Na impossibilidade de saber o que houve com certeza, a atitude mais sã é seguir a hipótese mais plausível, ou menos improvável, como ensina o princípio da navalha de ockham.
Pois bem. Não tenho motivo para me estender sobre esta questão da legitimidade da Bíblia, da suspeita carência de dados sobre a figura Histórica de Jesus e da absoluta incoerência do Cristianismo como um todo, pois para quem estuda o tema de maneira imparcial, buscando fontes sérias e credíveis, não há outra resposta; O Cristianismo é uma fraude. Da Bíblia, se forem retirados todos os contos reciclados, mitologia sincretizada, incoerências históricas, erros grosseiros de tradução e mentiras descaradas, não sobra uma página. Talvez Jesus nunca tenha existido, e se existiu, certamente não se assemelhou em praticamente nada ao que é descrito nas estórias da Bíblia.
Tudo bem. Até aí, apesar de ter perdido, com razão e pela razão, a minha fé no Cristianismo, ainda acreditava em um deus protetor, uma entidade criadora e compassiva, capaz de ouvir preces e intervir beneficamente em prol de indivíduos de bom coração. Este período durou pouco, no entanto.
Passei pelo Hinduísmo, Espiritismo, Budismo. Li bastante. Ponderei muito. O caminho da razão continuou me afastando, invariavelmente, do caminho da fé.
O problema do mal, como o descrevi num artigo anterior, logo me afastou da crença na possibilidade da coexistência de um deus bondoso, onipresente, onipotente e onisciente com a existência inegável do mal. Busquei, mas não encontrei nenhuma justificativa minimamente satisfatória para esta questão.
Em outras instâncias, estudos como este, publicadas no prestigiado e cientificamente respeitado The American Heart Journal, provam com um nível bastante razoável de certeza que orar é inútil. Neste caso, especificamente, o estudo abrangeu 1802 pacientes de seis hospitais diferentes. Todos foram alvo de bypass coronários, sendo depois agrupados em três grupos diferentes: dois que recebiam orações e um terceiro, de controle, que não as recebia. Dos primeiros dois grupos, um sabia quem rezava por eles, o outro, não. As orações foram o produto de “especialistas”, de forma a maximizar o seu efeito e potencial ação, tendo sido selecionados o “St. Paul’s Monastery”, as Carmelitas de Worcester, em Massachussets, e a congregação Evangélica “Silent Unity”, perto de Kansas City. As congregações usaram os primeiros nomes dos pacientes e as iniciais dos seus últimos nomes, mas nunca os nomes completos, assim como a frase “por uma cirurgia bem sucedida com uma recuperação rápida, saudável e sem complicações”. Trinta dias depois, os pesquisadores compararam os resultados dos três grupos e não encontraram diferenças entre os pacientes que tinham recebido orações dos que não tinham. Para ser claro: Em todos os estudos científicos desta natureza aos quais tive acesso, a conclusão foi a mesma. Orar não funciona.
De qualquer forma, estudos desta natureza, de largo espetro e rigor científico, apesar de serem vários e conclusivos, não são necessários. Basta ser inteligente e observador para concluir a mesma coisa de maneira empírica. Em todo mundo, a morte por acidentes horríveis, barbaridades, doenças e o sofrimento em geral não faz distinção entre Cristão, Muçulmano, Espírita, Hindu, Budista ou nenhum outro fiel de nenhuma outra religião. A fé, crença ou orações não poupa ou protege ninguém.
Outro fato intrigante é que os países com maior índice de Ateísmo estão, em sua maior parte, também entre os melhores e mais civilizados países para se viver no mundo, como o Japão, República Tcheca, Dinamarca, França, Alemanha, Coreia do Sul, Holanda, Áustria, Islândia, Austrália e Irlanda, enquanto os países mais religiosos do mundo, como Gana, Nigéria, Armênia, Macedônia, Iraque, Peru e Brasil, não podem nem de longe ser considerados como "Paraísos Terrestres". Esta correlação não implica causa; Não prova necessariamente que a religião traz a desgraça, mas demonstra que a fé não tem colaborado em absolutamente nada para o progresso e bem-estar de determinadas sociedades, enquanto a falta de fé não tem agido em detrimento de outras.
Sinceramente; Existe algum motivo para acreditar em deus? Qual? Ao que me parece, a ciência, que tem contribuído infinitamente mais para a evolução e bem-estar da humanidade do que qualquer religião, tem ao longo dos séculos explicado com altíssimo grau de sucesso fenômenos que eram antes atribuídos a deus ou deuses. Restou muito pouco. Para onde vamos depois da morte? Tudo indica fortemente que para lugar nenhum. Como o universo foi criado? Estamos cada vez mais próximos de saber e, mesmo sem ter certeza, já temos hipóteses incrivelmente mais sofisticadas do que a desculpa do deus das lacunas, ou seja, "não sei, logo foi deus".
Ainda não temos como provar a não-existência de um deus nas bases da linha de pensamento Deísta, no entanto. Existe a possibilidade, embora pouco provável, de que o universo possa ter sido criado por uma civilização supra-avançada, capaz de tamanhos feitos. Se tivermos tempo, do jeito que anda a evolução da tecnologia, talvez nós mesmos consigamos criar universos algum dia. Porém, com base no que foi dito nos parágrafos anteriores, a hipótese da existência de um deus babá, vigilante, que pune os infiéis e recompensa os crentes está veementemente fora de questão até que alguém me convença, através de argumentos e dados concretos e sadios, do contrário. Isso provavelmente nunca irá acontecer, já que em todos os debates e argumentações dos quais participei, li ou assisti entre ateus e religiosos, os defensores da hipótese divina foram invariavelmente derrotados, sem exceção.
Sabem, já me perguntaram algumas vezes - Já que você não acredita, qual a razão de pensar, estudar e escrever tanto sobre o assunto? - Considero esta pergunta muito justa e faço questão de respondê-la.
Gostaria de dizer que terei o maior prazer em deixar essa questão de lado quando a religião e religiosos em geral deixarem de tentar impor suas doutrinas e moralismo hipócrita à sociedade e, consequentemente, à minha vida. Seguirei alegremente o princípio do cada um na sua o dia que for recíproco.
Gostaria de dizer que terei o maior prazer em deixar essa questão de lado quando a religião e religiosos em geral deixarem de tentar impor suas doutrinas e moralismo hipócrita à sociedade e, consequentemente, à minha vida. Seguirei alegremente o princípio do cada um na sua o dia que for recíproco.
No entanto, sou testemunha direta do mal que a religião pode fazer. Vejo de perto, todos os dias, pessoas de coração bom, as quais amo e respeito profundamente, serem extorquidas, emocionalmente chantageadas, iludidas e oprimidas pelo apetite insaciável da indústria da fé, dos charlatães neo-pentecostalistas e da ridícula porém perigosíssima teologia da prosperidade. Mesmo se não vivesse este drama no dia-a-dia, não poderia ignorar o momento em que nosso país vive, no qual a extorsão e estelionato religioso acontece cada vez mas aberta e descaradamente, quando templos do tamanho de Shoppings são construídos para roubar dos pobres e ingênuos. Ter que conviver com isso tudo e ser obrigado a aceitar o fato de que nenhuma autoridade faz nada a respeito me indigna profundamente.
O pior, na minha opinião, nem é o aspecto financeiro dos absurdos praticados por estas instituições religiosas, mas suas consequências intelectuais e emocionais. A indústria da fé não mede esforços e não impõe limites à sua inescrupulosidade para manter as pessoas na ignorância, para reduzir o intelecto comum de seu "rebanho" literalmente à capacidade intelectual de ovelhas. Intimidam quem pensa através da imposição de culpa e medo. Punem que ousa questionar. Não aceitam dialogar. Quem não questiona, quem somente aceita tudo que é dito como um bom cordeirinho é estimulado por promessas de realizações mil. Tratam seres humanos livres como ratos de laboratório, adestrando-os como adestra-se cães, com estímulos negativos e positivos, até reduzi-los a escravos emocionais e absolutas nulidades intelectuais incapazes de pensar fora da prisão e dos limites que lhes foram impostos.
Logo, em virtude dos fatos mencionados e de muitas outras variáveis sobre as quais espero poder escrever no futuro, não me resta outra saída a não ser me afastar cada vez mais da religião e da noção geral da existência de um deus ou deuses. Bill Nye em um debate no qual destruiu de maneira épica os argumentos do religioso Ken Ham, quando foi questionado pelo mediator sobre a possibilidade de haver alguma coisa que o faria mudar de ideia, respondeu: - Claro, evidências me fariam mudar de ideia. Seu adversário, Cristão e defensor do Criacionismo, respondeu: -Nada.
Atitudes como a citada logo acima, para mim, resumem muito bem a diferença entre a mente investigativa, livre e honesta, da mente escravizada e contaminada pela religião e pela fé. O bom pensador científico está sempre disposto a mudar e não pensa duas vezes em fazê-lo frente a evidências contrárias à seus argumentos. Já o bom religioso, seja ele Cristão ou de qualquer outra fé, não só assume uma postura cega, infantil e irracional, sendo inflexível à mudanças de opinião mesmo que uma montanha de evidências conclusivas e concretas contrárias às suas convicções sejam-lhe apresentadas, mas tem sua fé medida proporcionalmente ao tamanho de sua inflexibilidade e irredutibilidade.
Falando em fé, quais são mesmo as vantagens de acreditar em qualquer coisa sem que hajam evidências a favor de sua existência? Isso para mim tem outro nome. Nunca consegui entender o que porventura, para o religioso, transforma a fé em uma qualidade.
Atitudes como a citada logo acima, para mim, resumem muito bem a diferença entre a mente investigativa, livre e honesta, da mente escravizada e contaminada pela religião e pela fé. O bom pensador científico está sempre disposto a mudar e não pensa duas vezes em fazê-lo frente a evidências contrárias à seus argumentos. Já o bom religioso, seja ele Cristão ou de qualquer outra fé, não só assume uma postura cega, infantil e irracional, sendo inflexível à mudanças de opinião mesmo que uma montanha de evidências conclusivas e concretas contrárias às suas convicções sejam-lhe apresentadas, mas tem sua fé medida proporcionalmente ao tamanho de sua inflexibilidade e irredutibilidade.
Falando em fé, quais são mesmo as vantagens de acreditar em qualquer coisa sem que hajam evidências a favor de sua existência? Isso para mim tem outro nome. Nunca consegui entender o que porventura, para o religioso, transforma a fé em uma qualidade.
Para as instituições religiosas em sua maioria, quanto mais irracional um homem for, mais é considerado um homem de fé. Quanto mais ignora evidências e verdades, mais fé tem aos olhos da igreja. Quanto mais cego e ignorante, mais mérito tem como fiel, e claro, mais dinheiro rende aos cofres do bispo no final do mês.
É nesse mundo que você quer viver? Em um mundo governado pela religião no qual a escravidão intelectual e a ignorância são consideradas como qualidades, como demostração de fé ao invés de uma falha grave? Em um mundo onde a inovação, criatividade e curiosidade são consideradas heresias? Onde gênios são perseguidos, torturados e mortos por descobrir verdades inconvenientes e contrárias a doutrinas sem pé nem cabeça idealizadas na idade do bronze, quando o homem mal havia acabado de deixar pra trás a idade da pedra? Assim era o mundo antes de haver separação entre religião e Estado.
Particularmente, quero viver em um mundo onde criminosos que exploram a boa vontade dos pobres e ignorantes apodreçam na cadeia. Quero viver em um mundo onde demências religiosas sem fundamento não interrompam o progresso de pesquisas científicas que poderiam salvar milhares de vidas. Quero viver em um mundo onde haja verdadeira separação entre igreja e Estado, onde seja proibido que charlatães da fé infiltrem-se na política para perseguir e atravancar projetos que vão contra à sua moralidade de araque. Quero viver em um mundo onde a curiosidade e questionamentos sejam encorajados, não punidos e considerados sinais de perversão. Quero viver em um mundo onde as pessoas tenham total liberdade para seguir a linha de pensamento que bem entenderem, para exercer sua individualidade da maneira que quiserem dentro do limite da ética e onde sejam incentivadas e não consideradas pecadoras por fazê-lo. Quero viver em um mundo onde as pessoas ajam com decência não porque tem medo de ir pro inferno, mas porque foram educadas bem o suficiente para saber discernir entre o certo e o errado através da examinação constante da própria consciência.
Enfim, quero viver em um mundo onde não haja deuses, demônios e nenhum outro tipo de desculpa esfarrapada criada para eximir a nós, seres humanos, da culpa direta pelas consequências de nossos atos desastrosos, nem para roubar o crédito sobre o mérito de nosso feitos maravilhosos.